Inês Lourenço
No princípio não era o verbo mas o antes. Ditoso não-lugar onde nenhum mantimento era necessário. Mesmo isso a que chamam palavras, essas cadeias servis de contágio e contagem, não tinham qualquer serventia.
Era muito antes da cisão da luz e da treva e da fábula fatal de qualquer existência. Muito antes da invenção maligna de Cronos ou de outro qualquer princípio divino. Muito antes do negro e do branco, do bem e do mal, do gozo e da dor, do ganho e da perda, da fauna e da flora, da terra e da água, do macho e da fêmea.
Desnecessários eram e inúteis: searas e ceifeiros, rebanhos e pastores, senhores e servos, possuidores e coisas possuídas.
Antes, muito antes do amor, do sangue e da sede, antes da viagem, antes da subida, antes do declive.
Desde muito cedo antes da morte.
(“a minha palavra favorita”, centroatlantico.pt)
Desde muito cedo antes da morte.
(“a minha palavra favorita”, centroatlantico.pt)
Sem comentários:
Enviar um comentário